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Mercado de tecnologia deve apostar nas habilidades das mulheres que são mães

Mercado de tecnologia deve apostar nas habilidades das mulheres que são mães

A maternidade é um tema especialmente sensível para mim. Ao longo dos últimos anos, busquei equilibrar minha vida profissional com os demais papéis que exerço como mulher, dentre eles, ser mãe. Liderei instituições, fundei o BrazilLAB, o primeiro hub de inovação e tecnologia do Brasil para governos, e também sou mãe de três crianças.

Entendo e vivencio todos os seus desafios de conciliar essas duas realidades, inclusive depois que a pandemia se instalou e nos impossibilitou de contar com uma rede de apoio que é tão valiosa. Precisei assumir atividades cotidianas do trabalho e todas aquelas do cuidado com a casa e com as crianças, especialmente o homeschooling.PUBLICIDADE

É a partir da minha experiência que percebo que as mulheres que também têm uma carreira e são mães têm diversas habilidades e competências que podem ser muito bem aproveitadas no mundo profissional, como resiliência, capacidade de comunicação e, principalmente, o exercício da liderança. Podemos e devemos avançar para garantir uma maior participação delas nas organizações – não há dúvidas de que todos nós só teremos a ganhar com isso.

Para que isso aconteça, é preciso que toda a sociedade se empenhe em ampliar a participação de mulheres em cargos de liderança. A ONU concorda que a igualdade de gênero é uma das prioridades para os próximos anos e que os danos causados pela pandemia na carreira das mulheres representam um risco grande para que a maior participação feminina no mercado de trabalho se torne uma realidade. Por isso. Este é o 5° dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) criados pela Organização das Nações Unidas para cumprir os acordos da Agenda 2030.

A Girls in Tech, organização global sem fins lucrativos que trabalha para eliminar a lacuna de gênero na tecnologia, publicou recentemente os resultados de seu estudo “The Tech Workplace for Women in the Pandemic”. Nele, relata o efeito devastador da Covid-19 sobre as mulheres na força de trabalho de tecnologia.

Quase 76% das entrevistadas relataram estar exaustas desde o início da pandemia, em março de 2020. Embora as taxas de esgotamento sejam extremamente altas, uma porcentagem esmagadora (93%) de funcionárias em tempo integral diz que tem sorte de ter um emprego.

A taxa de esgotamento das mães trabalhadoras é mais alta, com 78% das mulheres que têm filhos em casa relatando que é difícil conciliar trabalho e responsabilidades domésticas; e com 79% se dizendo completamente esgotadas. Já 87% das profissionais em tempo integral esperam que a força de trabalho pareça muito diferente após a pandemia, com mais de 82% esperando que os empregadores se ajustem para atender as diferentes necessidades de seus funcionários e 88% esperando benefícios diferentes de seus empregadores pós-pandemia. Apesar das dificuldades em conciliar trabalho e tarefas domésticas, 76% das funcionárias em tempo integral preferem trabalhar em casa a trabalhar no escritório. A maioria não quer retornar ao escritório pessoalmente uma vez que as restrições impostas pelo novo coronavírus sejam suspensas.

A questão é que não dá para esperarmos o fim da pandemia para colocar tudo em seu devido lugar. Precisamos usar as habilidades dessas mulheres que são mães e dar flexibilidade para que elas consigam conciliar todos os seus papéis. Na tecnologia, as poucas mulheres mães estão perdendo seu espaço por conta do enorme desafio de conciliar a profissão com os filhos.

Sempre acreditei que não é preciso escolher entre maternidade e carreira. Ao longo de minha experiência profissional sempre busquei mostrar que, apesar da complexidade, é possível prosperar em ambos os domínios, desde que tenhamos incentivos e apoio para tal.

E vale destacar que a maior participação de mulheres e mães no mercado de trabalho, especificamente o de tecnologia, é uma conquista que beneficia a todos, pois ampliar a diversidade no mercado só traz vantagens. Uma pesquisa da Women in Tech, do Reino Unido, indica que a economia do país poderia se beneficiar se mais mulheres trabalhassem no setor de TI por apresentarem melhores habilidades de comunicação e ideias mais inovadoras.

Nesse mês, que também comemoramos o Dia das Mães, o meu principal desejo é que a maioria delas (e não a minoria, como é atualmente) estivesse ocupando os cargos e os lugares que realmente merecem. Este talvez seja o principal presente que podemos – todas e todos nós – ganhar.

Letícia Piccolotto é Presidente Executiva da Fundação BRAVA (www.brava.org.br) e fundadora do BrazilLAB – primeiro hub de inovação GovTech que conecta startups com o poder público.

Fonte: olhardigital.com.br