Covid-19, corticoide e osteonecrose: o que você precisa saber sobre essa tríade
Paciente de 33 anos ignorou dor no quadril considerada passageira; a importância de consultar um especialista reforça o alerta sobre problemas de mobilidade em pessoas jovens, suas múltiplas causas e a necessidade de prevenção e tratamento precoce

São Paulo, agosto de 2025 – Mesmo após o fim da fase mais aguda da pandemia, os impactos indiretos da Covid-19 continuam a afetar a saúde das pessoas. Um deles é o aumento de casos de osteonecrose da cabeça femoral, uma doença causada pela morte do tecido ósseo devido à interrupção do fluxo sanguíneo na região. A doença acomete mais frequentemente adultos entre 20 e 50[1] anos e tem como manifestação mais comum a queixa de dor na região do quadril associado a dificuldades de locomoção, sintomas até então mais associados ao envelhecimento.
O uso prolongado de corticoide – amplamente administrados durante a pandemia para o controle de processos inflamatórios – tem sido apontado como um dos fatores que favorecem o surgimento da osteonecrose[2,3~],. Além disso, a própria Covid-19, por seu potencial pró-trombótico, pode contribuir para a formação de coágulos e obstrução dos pequenos vasos sanguíneos que irrigam o osso.
Esse cenário é ilustrado pela história do anestesista Robert Pouchain, de 33 anos. Em agosto de 2024, durante um treino na academia, Robert começou a sentir dores no quadril que, inicialmente, atribuiu à sobrecarga muscular. “A dor começou na academia, mas depois apareceu também quando eu tocava bateria. Com o tempo, foi ficando constante, principalmente à noite, a ponto de me acordar várias vezes”, conta. Na tentativa de aliviar o desconforto, o médico utilizou analgésicos e anti-inflamatórios, além de infiltrações no quadril para alívio temporário. “Sabe aquela peça de teatro que você vai para relaxar? Fiz isso uma vez e, para mim, foi uma tortura. Do trajeto até o fim do espetáculo, a dor não me largava”, relembra.
Bruno Rudelli, ortopedista especialista em cirurgia do quadril do Hospital Sírio-Libanês, destaca que o caso de Robert exemplifica um crescimento preocupante desses diagnósticos em pacientes jovens, principalmente após a pandemia. “Muitas vezes, a osteonecrose não é diagnosticada de imediato, pois pode ser confundida com dores musculares comuns. A fase aguda, relacionada ao momento do fenômeno da morte celular, pode ou não ser dolorosa, e o desconforto tende a aliviar temporariamente após alguns meses. Por isso, é fundamental estar atento a qualquer dor persistente”, alerta.
Mesmo com os sintomas, Robert manteve sua rotina de trabalho, exercícios e música. Em novembro, viajou ao Chile e escalou um vulcão de mais de 5.500 metros de altitude. “Depois desse episódio, fiquei praticamente sem andar. Sentia muita dor na virilha e não conseguia movimentar o quadril. Achei que era uma tendinite, mas a ressonância revelou algo bem mais sério: osteonecrose da cabeça do fêmur. Para mim, esse era o pior diagnóstico que eu poderia encontrar. O impacto emocional foi grande“, recorda.
O diagnóstico e início do tratamento só ocorreram no começo de 2025, após avaliação com um ortopedista especializado. Mesmo com investigações que envolveram também um reumatologista, a causa exata da osteonecrose não foi identificada com precisão. “Passei meses tentando entender o que causou essa doença. Foi corticoide? Covid-19? Mergulho? Genética? No fim, talvez tenha sido tudo isso. Ou nada disso”, reflete Robert.
Com a evolução da doença, foi indicada a cirurgia para colocação de prótese de quadril, realizada no início deste ano. “Claro que tive medo, mas também esperança. Era minha chance de voltar a viver com liberdade. O primeiro mês foi difícil, mas depois da quarta semana, a melhora foi exponencial. Hoje, três meses depois, voltei a andar, a tocar bateria, a viver. Ainda não corro, mas sigo caminhando minha história com mais firmeza”, conclui.
Diagnóstico tardio
O médico explica que o número de casos de osteonecrose, possivelmente relacionados à Covid-19, só estão aparecendo no consultório atualmente por causa do diagnóstico tardio. “Muitos pacientes permanecem assintomáticos por anos, mas a doença pode avançar silenciosamente até causar o colapso da articulação e dor intensa. O diagnóstico precoce é essencial uma vez que a progressão da doença pode levar a procedimentos invasivos como a colocação de prótese total de quadril”, reforça Rudelli.
Os principais sinais da osteonecrose incluem dores intensas na região da virilha e quadris, além de dificuldade de locomoção, principalmente em estágios avançados. Estima-se que cerca de 20 mil¹ novos casos da doença sejam diagnosticados anualmente, com o quadril sendo a área mais afetada. Em 60% a 80% dos pacientes, ambos os lados do quadril são acometidos, o que agrava a limitação funcional¹. O diagnóstico é confirmado por exames de imagem, como ressonância magnética, tomografia e radiografias.
“A osteonecrose pode limitar muito a qualidade de vida, inclusive de pessoas jovens e ativas. Por isso, ao sentir dores persistentes, é fundamental evitar a automedicação e procurar um ortopedista para avaliação adequada”, finaliza o especialista.
Sobre o Sírio-Libanês
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