Negócios/Receita de sucesso: Quinta do Olivardo vende 40 mil bolinhos de bacalhau por mês e mantém viva a tradição portuguesa em São Roque
Ícone da culinária lusitana, o bolinho de bacalhau é um dos carros-chefes da Quinta do Olivardo que alia história e superação no interior paulista

Poucos quitutes representam tão bem a essência da gastronomia portuguesa quanto o bolinho de bacalhau. Crocante por fora, macio por dentro, ele carrega no sabor uma história de séculos, marcada pela tradição e pelo aproveitamento. Originalmente criado em Portugal para dar novo destino às sobras do peixe, alimento nobre e indispensável à mesa lusitana, o bolinho nasceu como alternativa econômica e se tornou um clássico que atravessou oceanos, conquistando corações e paladares no Brasil.

Hoje, o bolinho de bacalhau ultrapassou fronteiras e se consagrou como um petisco global. Em Portugal, onde é chamado de pastel de bacalhau, é presença obrigatória em tascas e celebrações tradicionais. No Brasil, ganhou status de ícone nos restaurantes portugueses e até em botequins, especialmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Na França, aparece nas Antilhas sob o nome accras de morue, com temperos típicos da região, enquanto na Espanha há versões semelhantes na Galícia. Em países africanos como Angola e Moçambique, ex-colônias portuguesas, o prato também se manteve como herança gastronômica. Essa expansão mostra a versatilidade e o apelo universal do bolinho, que segue conquistando paladares pelo mundo.

E é justamente em São Roque, cidade conhecida por seus vinhos e turismo gastronômico, que esse ícone da culinária portuguesa ganhou um espaço especial na Quinta do Olivardo. Mais do que um restaurante, a Quinta é um pedacinho de Portugal no interior paulista, com vinhos premiados e um cardápio repleto de tradições lusitanas. Mas o sucesso vivido hoje pelo complexo tem um tempero extra, reflexo de uma história de superação inspiradora.
Olivardo, filho de boia-fria e criado em uma família muito humilde, trabalhava em uma vinícola da região quando perdeu o emprego em 2007. Com três filhos pequenos e sem perspectivas, chegou a cair em depressão. A virada aconteceu de forma inusitada: assistindo a um programa de televisão, ouviu uma frase de Clarice Lispector que mudaria tudo que dizia “Sonhe com aquilo que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer”.

Tomado pela coragem, decidiu vender tudo o que tinha, a casa e o carro, para comprar um sítio na Estrada do Vinho. Assim nasceu a Quinta do Olivardo. Enquanto aguardava as primeiras uvas para vinificação, Olivardo vendia sucos, queijos e produtos artesanais da região. Três anos depois, o primeiro vinho foi engarrafado e conquistou os visitantes. Mas faltava um prato que harmonizasse com os vinhos.
A solução veio do caderno de receitas da avó portuguesa, herdado pela esposa de Olivardo. Ali estava guardado o segredo de um autêntico bolinho de bacalhau, preparado com bacalhau dessalgado, batatas no ponto certo e azeite de qualidade. A iguaria, servida crocante e dourada, tornou-se rapidamente um dos carros-chefes da casa, abrindo espaço para outros pratos lusitanos que hoje fazem parte do cardápio.
“Quando decidi seguir meu sonho e abrir a Quinta, não imaginava que um dia venderíamos tantos bolinhos de bacalhau. É gratificante ver que conseguimos levar a tradição portuguesa para tanta gente e transformar nosso espaço em uma experiência inesquecível”, afirma Olivardo Saqui.
Atualmente, o sucesso é tão grande que o complexo comercializa 40 mil bolinhos por mês, um número que reforça a paixão dos visitantes por essa receita tradicional.
“Hoje, a Quinta do Olivardo atrai visitantes de todo o Brasil para experiências que vão além do paladar. Cada bolinho de bacalhau servido carrega não apenas a tradição portuguesa, mas também a história de resiliência e coragem de quem acreditou nos sonhos para transformar dificuldades em conquistas”, finaliza Saqui.